João Neutzling Jr.
A hora do Brics
João Neutzling Jr.
Economista, bacharel em Direito, mestre em Educação, auditor estadual, pesquisador e professor
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O termo Brics refere-se aos países Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul que, segundo avaliação do Goldman Sachs Bank, iriam exercer um papel significativo no cenário econômico do século 21. Em 2009 ocorreu a primeira reunião diplomática entre as partes para se estabelecer uma ação coordenada em prol dos seus interesses.
O somatório dos PIBs (Produto Interno Bruto ou somatório da riqueza gerada em um ano) do Brics equivale a 22% do PIB mundial (25 trilhões de dólares), sendo que sua população corresponde a 42% dos habitantes do planeta (três bilhões de pessoas). Ou seja, é significativa sua participação na economia mundial.
Desde 1944, a coordenação do sistema financeiro mundial está baseada no binômio Banco Mundial (The World Bank) e Fundo Monetário Internacional (FMI), conforme o acordo de Bretton Woods, que seguem estritamente o receituário neoliberal e o chamado Consenso de Washington. Há entretanto, hoje, uma necessidade de uma nova estrutura alternativa de apoio financeiro e cambial aos países emergentes que não conseguem se adequar às exigências do sistema FMI/Banco Mundial.
Para tanto, o Brics criou um banco de reservas emergenciais para socorro financeiro dos países que enfrentam déficit no balanço de pagamentos e desvalorização aguda de suas moedas, como hoje ocorre na Argentina. Esta instituição é o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), Banco dos Brics, criado em julho de 2014 com sede em Xangai, na China. Com um capital inicial de cem bilhões de dólares, o NBD é uma alternativa ao FMI e ao Banco Mundial para países que necessitem de créditos.
Hoje o Brics se fortalece como uma instituição multilateral, onde a China tem um papel preponderante, capaz de se contrapor à ação dos Estados Unidos e Otan na geopolítica contemporânea. Na sua essência, o Brics deseja que os poderes regionais se organizam autonomamente de modo a criar uma moeda alternativa à hegemonia do dólar, além de fortalecer as cadeias de suprimento de insumos e dinamizar o comércio e investimento interpaíses no hemisfério sul.
No último ano, mais de dez países manifestaram interesse em se associar ao Brics, entre eles Argentina, Egito, Argélia e outros. Tudo sob comando da China que recentemente patrocinou o histórico acordo entre Irã (maioria xiita) e Arábia Saudita (majoritariamente sunita), provocando "ciúmes" em Washington pela perda de poder e influência.
E, em maio último, a economista Dilma Roussef assumiu a presidência do banco em uma cerimônia oficial em Xangai, enfatizando ações em prol do meio ambiente, combater a pobreza, desenvolvimento compartilhado e uso das moedas locais em operações financeiras sem uso do dólar americano. O NBD já investiu mais de 35 bilhões de dólares em mais de 80 projetos de desenvolvimento nos países membros, sendo 20 projetos no Brasil, tais como saneamento urbano em Pernambuco, irrigação rural na Bahia, mobilidade urbana em São Paulo, entre outros.
Inegável que a China está usando a estrutura do Brics para se fortalecer como nova potência hegemônica. Mas resta saber se os países membros vão efetivamente se beneficiar e em que medida os projetos de desenvolvimento serão duradouros.
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